Estados americanos onde a cannabis foi legalizada vivem uma nova onda: coquetéis turbinados com infusões que chapam o coco
Por Sergio Crusco

Imagine um Manhattan ou um Old Fashioned com um trilili a mais na receita. Não estamos falando de twist de limão, shrub de frutas ou cardamomo defumado, técnicas que os mixologistas adoram e, claro, dão sabor, aroma e outras sensações delicadas e deliciosas aos coquetéis. É que a onda prafrentex, lá pelas bandas descriminalizadas do planeta, são drinques com infusão de maconha.
Um dos gurus da tendência é o mixologista Daniel K Nelson, proprietário do The Writer’s Room em Los Angeles, Califórnia (estado onde o uso medicinal da maconha é legalizado). Nelson fez sua primeira experiência com cannabis na bebida durante um evento em que chefs prepararam um menu com a erva. Jogou dois ramos da planta numa garrafa de vodca, mas nem o sabor ou o barato o apeteceram. Ficou chocho e não fez a cabeça.
Queimou a mufa, fez testes, leu livros clássicos de mixologia, descobriu mais sobre infusões. Chegou ao teor esperado quando aprendeu a descarboxilar a erva. Ou seja, aquecer a cannabis verde para ativar o THC e então poder infusioná-la com efeito em diferentes tipos de destilados. (Se você quer entender mais sobre o assunto e tornar-se bamba, leia o artigo em inglês do site Cannabis Growers Headquarters.)

Nelson criou coquetéis turbinados com vodca, uísque, gim, espumante e até a nossa cachaça, tendo a graça de compartilhá-los com o mundo, como fez na seção Munchies, da Vice, e em outras paragens virtuais. A moda pegou fogo e chegou ao mercado de refrigerantes. No estado de Washington, onde o uso recreativo da maconha foi liberado, a linha Legal leva algo mais do que água, açúcar e caramelo em suas fórmulas. Tem tubaína de romã, de cereja e de limão com gengibre, cada uma prometendo um barato diferente. Com slogan sensacional: “Relax, It’s Legal”.
Quer receitinha?
Matt Merkin, colaborador do site Liquor.com resolveu testar sua receita de Pot Manhattan, usando rye whiskey (à base de centeio). Bebeu, gostou, postou, mas recomenda: “É para quem não tem qualquer compromisso sério adiante”. O preparo é simples: 50 ml de uísque infusionado com cannabis, 25 ml de vermute doce e 3 gotas de Angostura – tudo na coqueteleira com gelo, bater, coar numa taça.
A safadeza prévia está na tal técnica de descarboxilar e depois infusionar. É preciso um ramo fresco e de qualidade (ah, isso é com você!) dechavado. Ele vai para o forno a cerca de 120º por 45 minutos e, depois de frio, é misturado a 750 ml de destilado de alto teor alcoólico (40% pra cima). Segundo Matt, é só mexer um pouco e deixar a garrafa num lugar escuro durante dois dias. Depois coar, usando gaze (como se fosse um filtro de café) e dando uma espremidinha final para extrair o que interessa. E preparar seu drinque de devoção.
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PS – Não curto maconha, prefiro dringue sem THC. Só questão de gosto. Apoio a descriminalização ampla, geral e irrestrita.
Musiquinhas tchoptchura para harmonizar com seu coquetel…
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Créditos das fotos: Reprodução