Leve, sutil, elegante – assim é o Buck’s Fizz, coquetel de champanhe com suco de laranja, também conhecido como Mimosa. O drinque é bebericado por Fred Astaire em O Picolino, um de seus maiores sucessos ao lado da eterna parceira Ginger Rogers
Por Walterson Sardenberg Sº

Todo mundo sabe que os ingleses e os franceses não falam a mesma língua. Embora já tenham falado: durante três séculos, a partir de 1066, a corte britânica só se comunicou em francês. Isso ocorreu porque, naquele ano, a ilha foi dominada pelo galês Guilherme, o duque da Normandia. Deste episódio, por sinal, surgiu a indissolúvel, embora muitas vezes velada, animosidade entre os dois vizinhos, separados por um braço de mar — e um braço de ferro.
Esta rivalidade aparece até no reino dos drinques. Tome-se o Buck’s Fizz como exemplo — e tome outro apenas pelo prazer, que ele merece. Assim os ingleses chamam este coquetel simples, composto, em geral, apenas de champanhe e suco de laranja. Basta, contudo, atravessar o Canal da Mancha — tratado pelos britânicos por English Channel (só pode ser provocação…) — e o drinque muda de nome. Torna-se Mimosa. Com esta grafia mesmo, em português, para aumentar ainda mais a confusão.
Passemos aos fatos. Em 1921, o barman McGarry, do Buck’s Club, de Londres, juntou 1/3 de champanhe brut e 2/3 de suco de laranja em uma taça própria para os espumantes. Pronto. O novo coquetel agradou às mulheres, pela leveza, e também aos homens, quando um deles descobriu que era um amigo de todas as horas — em especial, as horas de ressaca. Até hoje a receita perdura, com um dash de Granadine ou alguma outra mínima variação.
Voltemos à história. Quatro anos depois, o barman do Hotel Ritz, de Paris, alterou as proporções das doses, aumentando o poder alcoólico do coquetel — sim, Hemingway frequentava o bar, que hoje tem o seu nome, mas não foi consultado. O Mimosa é preparado com metade de champanhe e metade de suco de laranja. Sabe-se que o drinque foi assim batizado (no bom sentido do verbo) em homenagem a uma acácia australiana. Mas deve ter algum português nessa história. Ou seria um fazendeiro brasileiro, homenageando sua vaca predileta?

Seja como for, tanto o Buck’s Fizz quanto o Mimosa são drinques festivos. Costuma-se servi-los em casamentos, brunchs ou demais recepções alegres. Por isso, estes coquetéis harmonizam com o dançarino, cantor e ator (exatamente nesta ordem) Fred Astaire, um nome sempre associado à elegância, leveza e sofisticação (em qualquer ordem).
Ele degusta um Buck’s Fizz em O Picolino, o mais famoso dos dez filmes rodados em dupla com a atriz Ginger Rogers. Dirigido por Mark Sandrich nos estúdios da RKO, em 1935, o longa-metragem, o quarto da série, tem um enredo semelhante ao dos outros nove: Fred apaixona-se por Ginger, mas ela resiste aos seus assédios por vários números musicais, até descobrir que também está caidinha por ele. Dita assim, a narrativa parece simplória. Qual o problema? Este é um musical bem amarrado e, além disso, serve-se de algumas das mais aliciantes melodias de Irving Berlin, o gênio que começou a vida como garçom do Café Pelham, em Nova York.
Uma destas canções é a imortal Cheek to Cheek, iniciada com os versos “Heaven, I’m in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak” (“O céu, estou no céu/ E meu coração bate tanto que mal posso falar”). Há uma inacreditável versão em português que começa com “Éden, estou no Éden”. Mas estranho mesmo é o título do filme no Brasil: O Picolino. O original, Top Hat, ou seja, Cartola, foi vertido em Portugal para Chapéu Alto; na Espanha, para Sombrero de Copa e na Itália, para Capello a Cilindro. Pelo visto, faz tempo que os tradutores de títulos, no Brasil, não falam língua nenhuma.
RECEITA DE BUCK’S FIZZ (OU MIMOSA)
Ingredientes
140 ml de suco de laranja
70 ml de champanhe brut (ou espumante seco)
10 ml de Grenadine
3 pedras de gelo
Cereja, folhas de hortelã ou rodela de laranja para decorar (opcional)
Modo de preparo
Coloque uma taça flûte na geladeira por 10 minutos. Despeje o suco de laranja no mixing glass (copo de misturas), junte o gelo e misture. Retire a flûte da geladeira, disponha dentro o suco de laranja e acrescente o champanhe gelado. Para finalizar, insira o Grenadine, lentamente, pela borda do copo. Sirva com a cereja e as folhas de hortelã da decoração.
As canções de O Picolino com Fred Astaire e outros bambas
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Créditos das imagens: Fred Astaire (Reprodução), Vinheta Buck’s Fizz (Reprodução/Clipart), Buck’s Fizz (vxla/Creative Commons)
Sérgio, maravilhoso, que tal brindarmos assim? ¡Grande abrazo !
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Sim, maravilhoso, querido Anônimo. Mas aqui o crédito vai para Walterson Sardenberg Sobrinho, nosso elegante colaborador.
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